Sobre o trabalho

Cesta - Trançado em andamento


TRANÇANDO A SOMA DE VIDA E ARTE

          Nas mãos que trançam a palha, a soma de vida, arte e culturas, numa declaração de amor pela natureza. Assim é Denys Toquetti, um artesão que consagra sua criatividade a uma técnica que, além de arte, é jeito de fazer com que várias vozes se convertam em uma só, somando influências, vivência e sentimento. Na palha de coqueiro, surgem formas, tramas, objetos que vão desde uma rosa até uma bela e complexa mandala, passando pelos úteis chapéus e belas luminárias, além de arranjos em formatos infinitos.


Mandala com estrutura de bambu

          “Antes de mais nada , é preciso amar aquilo que se faz, amar o trançado, a maneira como se vai fazendo”, diz ele, que aprendeu junto aos índios pataxós a arte do trançado. “Os índios dizem que, antes de sequer começar, a gente tem de conversar com o coqueiro, dizer a ele que vamos fazer um trabalho bonito, daquela palha que a gente tira dele”, assevera. Daí surge uma infinitude de formatos, união do imaginário índio com influências africanas e asiáticas. Paulistano da Casa Verde, Denys é uma pessoa que pode falar de si com a matemática das distâncias. “Há vinte anos que viajo por esse Brasil; o que conheço é o que eu vi e senti”, diz ele, que, nessas viagens, teve seus primeiros contatos com aqueles que iriam influenciar sua arte. Contatos com artistas alternativos e, sobretudo, com os índios, que, a partir daí, começam a povoar sua mente para uma direção. De contínuo da Folha de S.Paulo a membro da Polícia do exército, um dia, depois de se tornar proprietário de um bar onde se aglutinavam diversas correntes artísticas – o famoso Lírios do Milênio, local de passagem de vários artistas, de diferentes gêneros e tendências, famosos e anônimos; mas era difícil encontrá-lo lá. Estava longe, em suas viagens e descobertas...


  
Figura de peixe, na lanchonete do SESC Campinas

Anéis porta-guardanapo


ENTRE OS PATAXÓS, A DESCOBERTA DA ALMA E DA ARTE.


          Durante os períodos de 1998/99 e 2002/2005, Denys convive entre os pataxós, e, entre eles começa a descobrir a arte do trançado e seus mistérios, a partir da compreensão do indígena, e desenvolvendo o caminho do aprendizado. “Aprendi essa arte sentindo a maneira deles de conviver com a natureza , eles fazendo o resgate de sua cultura através dessa arte”. Daí , ele descobre seu caminho, e também a soma de outras tantas influências. “ Estudo o simbolismo das coisas, da flor de Lótus, da Mandala , que são coisas cíclicas, infinitas, milenares, e combino com a imaginação do índio e, também com o que aprendo”. A motivação antes mesmo da compensação, é o amor pela arte. “ Isso tem de vir antes, antes de tudo, senão não vai ter sentido nenhum”. Na preparação para alçar mais altos vôos (já tem convites para apresentar seu trabalho no México e nos EUA) ele combina sua arte com outra igualmente sutil e expressiva, a música. “Passei a ser melhor músico depois da ‘palhoterapia’”, comenta. No processo de aprendizagem, a música foi a chave. “Conheci o cacique Cajarana, dos pataxós, e no que eu o ensinei a tocar a batida do reggae, ele me introduziu nos mistérios do trançado”.


PALHOTERAPIA – FIBRA VERDE


          Para Denys, a arte não se presta somente ao encanto, mas é igualmente um instrumento de renovação, de redescoberta do eu, de encontro consigo mesmo. “Quando tranço, viajo, saio deste plano, escuto muito mais e sinto muito mais as coisas ao redor de mim; após um dia de trabalho, volto à música e me entendo melhor”. Ele criou o conceito que se chama “palhoterapia”, onde o trançado se presta à renovação, a fazer as pessoas se sentirem melhor e mais antenadas com a natureza e com o mundo. “Fazer as pessoas se resgatarem, voltarem a se compreender, no processo de criação, de imaginação”, diz. De volta de sua viagem ao México, pretende começar oficinas e cursos pra demonstrar esse conceito, que promete muito interessante, uma tendência a se firmar no nosso universo de arte e cultura. “É uma coisa simples, mas que alcança uma grande profundidade”. Ele já tem idéias para estender esse projeto objetivando um público variado, que pode abranger desde crianças até a terceira idade. “Não há momento ou tempo certo pra começar, apenas a vontade, a imaginação e uma faquinha de pão”, finaliza.


Folhas trançadas e cestas